Autora: Izilda Rodrigues
Meus alunos com Necessidades Educacionais Especiais (Autismo) em Escola Especial... Grande desafio a cada dia! |
Sala de aula inclusiva... São formandos do 9º ano! Parabéns a todos!!! |
Paulo Henrique não podia faltar a manifestação contra o craque... |
1 - JUSTIFICATIVA
A atual política educacional brasileira, no que tange às
diretrizes para a educação especial, enfatiza a inclusão dos alunos com
necessidades educacionais especiais nas classes comuns, na perspectiva de
abolir as práticas segregacionistas que vêm norteando a educação desses alunos.
Entretanto, no que tange à educação básica no ensino público e privado, a
educação inclusiva tem representado um desafio.
As diferenças culturais, sociais, étnicas e a diversidade
humana estão sendo cada vez mais desveladas e descartadas. A integração dos
alunos com necessidades educativas especiais implica muito mais do que
simplesmente o aluno numa escola regular. Trata-se de um processo em que o
aluno tem oportunidades para se desenvolver e progredir em termos educativos
para uma autonomia econômica e social. A integração é igualmente um processo em
que as próprias escolas necessitam de mudar e de se desenvolver e proporcionar
um ensino de elevado nível a todos os alunos e o máximo de acesso aos que têm
necessidades educativas especiais. A exclusão gera efeitos terríveis. Ela afeta
a alto-estima e a identidade, produzindo um sentimento de desvalorização nos
indivíduos excluídos.
Um dos entraves hoje, na proposta educacional inclusiva é a
efetivação de metodologias e estratégias principalmente por parte dos
educadores nas salas de ensino regular. O professor é a peça chave que pode
delimitar o sucesso ou o fracasso da quebra de barreiras na Inclusão Escolar.
Ao receber um aluno com deficiência, alguns profissionais
apoiam-se no antigo chavão “Eu não tive formação adequada, portanto não sei
como trabalhar com esse aluno” ou ainda “Meu papel é repassar conteúdos, não
tenho conhecimento para lidar com as especificidades desse educando”.
Concordo que um dos papéis da escola é esse: a transmissão do
conhecimento, mas na atualidade proporcionando condições para que todos os
alunos aprendam, construam o seu conhecimento dentro de suas limitações, caso
esse do público alvo da Educação Especial.
A inclusão não é um processo que veio desmerecer o sistema
educativo, muito pelo contrário, a inclusão talvez no futuro, tornará nossa
sociedade mais justa e humana.
Acredito que a inclusão não pode ser algo edificante só na
intenção e nos documentos legais. Ela é algo vivo, presente, latente em nossas
escolas públicas e suas questões precisam ser discutidas, esclarecidas para que
com o entendimento necessário, todos a coloquemos em prática.
Vale ressaltar que a efetivação do processo inclusivo depende
de outros fatores, além da vontade do professor em acertar. Depende de um
trabalho conjunto, de parcerias estabelecidas, mas principalmente da aceitação
às diferenças.
Em 2010 assumi o compromisso de desenvolver o papel de agente
inclusivo a frente do Atendimento Educacional Especializado (AEE) em uma Escola
Estadual . Ao mesmo tempo desenvolvia e atualmente desenvolvo um trabalho
individualizado com alunos com NEE em atendimento Clínico pedagógico. Trabalho
também com o programa Teacch (Método educacional voltado para a Educação de
alunos autistas) em uma Escola Especial.
Durante esse período desenvolvi um projeto de trabalho que me
proporcionou estudar a legislação vigente ao tema, experimentar estratégias e
metodologias nos atendimentos, detectar especificidades em deficiências
variadas, estabelecer vínculos, comunicação e troca de informação com pais,
alunos, professores e gestores. Toda essa vivência e embasamento teórico
transformou-se em fonte de observações e pesquisa na busca do que falta ao
professor para apropriar-se da inclusão, para fazê-la acontecer na prática.
Nesse trabalho sintetizo minhas conclusões como especialista
em Educação Especial, Psicopedagoga habilitada em Séries Iniciais por formação
e professora de AEE, objetivando contribuir com informações fundamentais a
todos os envolvidos nessa luta pelos direitos de todos.
Foi através da necessidade em acertar e contribuir na
efetivação de um trabalho inclusivo mais eficaz e coletivo que nasceu a
inspiração de elaborar, a partir de minha experiência com todos os
profissionais envolvidos no âmbito escolar , um trabalho que deverá ser o
norteador de abordagens inclusivas aos gestores, famílias de crianças com
deficiência, agentes desses alunos, mas em especial aos professores do ensino
regular.
2. OBJETIVOS
2.1. Gerais
- Divulgar e documentar orientações concluídas a partir de um
trabalho de pesquisa realizado no período de Maio de 2010 a Novembro de 2012,
com sugestões e abordagens necessárias à prática de ensino inclusivo,
contribuindo com esse processo nas Unidades Escolares.
2.2. Específico(s)
- Contribuir a partir de minha experiência como professora da
Sala de Recursos Multifuncionais, dos atendimentos clínico pedagógico e Método
Teacch, com sugestões de práticas inclusivas embasadas na teoria e legislação
vigentes;
- Apontar alternativas para a escola lidar com determinadas
situações;
- Elencar formas de avaliar os alunos com Necessidades
Especiais em suas atividades;
- Demonstrar sugestões de como intervir com crianças com
deficiência ajudando a estabelecer relação a uma base teórica;
- Contribuir com subsídios aos profissionais interessados em
efetivar o processo inclusivo;
- Oferecer dicas de como agir com ANEE (Alunos com
Necessidades Educativas Especiais) diante das dificuldades em sala do ensino
regular;
- Esclarecer dúvidas que porventura possam surgir nas práticas
pedagógicas escolares, bem como elucidar o papel de todos os envolvidos no
processo inclusivo.
3. EIXOS DESENVOLVIDOS
Abordagens Teóricas, Metodológicas Inclusivas para as práticas
do Ensino Fundamental sugeridas a partir das Diretrizes do MEC.
4. METODOLOGIA
Entre Maio de 2010 a Novembro de 2012 realizei um trabalho
investigativo com professores regentes e professores de apoio, coletei
informações com outros profissionais da Educação Especial, levantei
dificuldades dos educadores envolvidos no processo inclusivo e através de
entrevistas com pais, professores, gestores, alunos atendidos, bem como
reflexões e debates em torno das necessidades para a inclusão de forma efetiva,
pude perceber e relacionar como pontos de estudo e posterior busca de soluções
questões que estão diretamente ligadas ao desempenho dos educandos com NEE e ao
manejo didático-pedagógico dos educadores com esses seus alunos.
Pretendo com esse trabalho, sintetizar um pouco das
informações práticas contidas nesse documento e tecer conclusões acerca do que
é fundamental a todos os profissionais envolvidos no âmbito educacional
transpondo teoria para a prática a fim de que realmente se efetive a inclusão
escolar, para que ela finalmente“saia do papel”.
5 - ORIENTAÇÕES IMPORTANTES COM ABORDAGENS PARA AS PRÁTICAS
INCLUSIVAS
Professor, não viva do passado: os tempos são outros...
Várias leis e documentos internacionais estabeleceram os
Direitos das pessoas com deficiência no nosso país. Confira alguns deles, que
foram referendados na revista eletrônica Nova Escola sobre as Leis sobre a
diversidade, outubro de 2006:
1988 - CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA-
- Prevê o pleno desenvolvimento dos cidadãos, sem preconceito
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação;
garante o direito à escola para todos; e coloca como princípio para a Educação
o "acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um";
1989- LEI Nº7.853/89-
- Define como crime recusar, suspender, adiar, cancelar ou
extinguir a matrícula de um estudante por causa de sua deficiência, em qualquer
curso ou nível de ensino, seja ele público ou privado. A pena para o infrator
pode variar de um a quatro anos de prisão, mais multa;
1990 -ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA):
- Garante o direito à igualdade de condições para o acesso e a
permanência na escola, sendo o Ensino Fundamental obrigatório e gratuito
(também aos que não tiveram acesso na idade própria); o respeito dos
educadores; e atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede
regular;
1994 -DECLARAÇÃO DE SALAMANCA:
- O texto, que não tem efeito de lei, diz que também devem
receber atendimento especializado crianças excluídas da escola por motivos como
trabalho infantil e abuso sexual. As que têm deficiências graves devem ser
atendidas no mesmo ambiente de ensino que todas as demais;
1996 - LEI E DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL (LBD):
- A redação do parágrafo 2o do artigo 59 provocou confusão,
dando a entender que, dependendo da deficiência, a criança só podia ser
atendida em escola especial. Na verdade, o texto diz que o atendimento
especializado pode ocorrer em classes ou em escolas especiais, quando não for
possível oferecê-lo na escola comum;
2000 - LEIS Nº10.048 E Nº 10.098:
- A primeira garante atendimento prioritário de pessoas com
deficiência nos locais públicos. A segunda estabelece normas sobre
acessibilidade física e define como barreira obstáculos nas vias e no interior
dos edifícios, nos meios de transporte e tudo o que dificulte a expressão ou o
recebimento de mensagens por intermédio dos meios de comunicação, sejam ou não
de massa;
2001 -DECRETO Nº3.956 (CONVENÇÃO DA GUATEMALA):
- Põe fim às interpretações confusas da LDB, deixando clara a
impossibilidade de tratamento desigual com base na deficiência. O acesso ao
Ensino Fundamental é, portanto, um direito humano e privar pessoas em idade
escolar dele, mantendo-as unicamente em escolas ou classes especiais, fere a
convenção e a Constituição;
- Conforme as legislações que amparam a permanência do ANEE na
escola, não aceitar alunos com deficiência nos dias atuais é considerado crime,
nossa legislação garante a todos esse direito de estar na escola, independente
da limitação;
- Não há lei que determine o número máximo de alunos por
turma, em detrimento de um ANEE que esteja matriculado na sala, portanto não
apoie-se nessa questão professor;
6 - DÊ OS PRIMEIROS PASSOS... O CAMINHO SE FAZ AO CAMINHAR !
Sabendo da legislação que ampara o aluno com deficiência estar
na escola, a primeira ação do professor deve ser: acolher! Receber esse aluno,
acolhê-lo, a ele e a sua família, transmitir confiança, passar a segurança do
profissional que é: para isso ele recebeu a devida formação;
- Acolhidos aluno e família, o professor deve conversar com a
turma sobre o amigo que irão receber, sensibilizar os colegas de sala para que
aprendam a lidar com as diferenças prováveis (os alunos poderão ser um suporte
muito importante de auxílio na aprendizagem do aluno com NEE e do professor
também.É importante que o educador informe ao grupo, sem constrangimentos ao
envolvido, que tipo de deficiência, limitações e especificidades o colega de
classe apresenta de forma a convidar a turma a auxiliá-lo no processo
inclusivo;
- Deve estabelecer um contato inicial com os pais no intuito
de coletar recomendações médicas, uso de medicações contínuas, orientações de
especialistas que porventura atendam esse educando. Estruturar um perfil de
saúde e cuidados específicos que acompanham a criança é fator essencial para
evitar problemas futuros;
- O professor precisa estudar, pesquisar, buscar fontes
bibliográficas que esclareçam a deficiência específica de seu educando e. mãos
à obra! Uma dica: hoje na internet os sites de busca trazem uma infinidade de
informações pertinentes a todos os tipos de Deficiências;
- Cabe ao professor iniciar o seu trabalho, sendo o mesmo
profissional para todos.
7- APOIO AO PROFESSOR REGENTE.
- É de suma importância o estabelecimento de parcerias do
professor do ensino comum com outros profissionais especializados como:
professor do AEE da Sala de Recursos Multifuncionais (SRM), profissionais de
Ed. Especial de outras instituições que atendam o aluno na área educacional
(como psicopedagogos ), profissionais da área da saúde como: psicólogos,
fisioterapeutas, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais...
- Após certo tempo de convívio com o seu aluno com
necessidades especiais, o professor poderá elencar as questões das quais
apresentar dúvidas, das quais não conseguiu executar no processo inclusivo;
- Na rotina diária da sala de aula, precisa apontar o que seu
aluno não conseguiu acompanhar e por que. Quais estratégias foram utilizadas
para sanar as limitações e não surtiram efeito, que habilidades o educando
ainda não desenvolveu e frente as suas limitações as dificuldades encontradas
pelo professor em explorá-la;
- Depois de ter em mãos o que realmente não dá conta sozinho,
o professor deve solicitar auxílio: uma visita de profissionais especializados
que atendam o seu aluno ou ele mesmo visitar a instituição , ligar, perguntar
ao professor do AEE da Sala de Recursos Multifuncionais de sua escola ou de
outra próxima...Se Maomé não vai à montanha...professor, busque você o que não
está bem claro e esclareça, afinal o aluno está sob a sua responsabilidade
educativa.
8 - EM CONTATO COM PROFISSIONAIS ESPECIALIZADOS VOCÊ PODERÁ
SOLICITAR:
- Leituras, informações, esclarecimento sobre as deficiências
dos educandos;
- Sugestões de materiais pedagógicos adaptados para melhor
atender seu aluno com NEE;
- Orientações de Locomoção e Mobilidade caso o aluno tenha uma
deficiência Física ou Visual;
- Estratégias de Comunicação Alternativa às deficiências que
possuam limitações na linguagem; ou uso de LIBRAS para surdos, entendimento do
Braille para cegos;
- Recursos Tecnológicos Acessíveis para a apropriação do aluno
com NEE em casa ou na escola;
-Encaminhamentos do aluno a outros serviços ou atendimentos se
houver necessidade;
- Possíveis esportes adaptados aos quais o educando poderá
fazer uso para melhorar seu desempenho;
- Formas adequadas de lidar com as famílias;
- Informações de Capacitações específicas na área da
deficiência de seu aluno;
- Orientações para lidar com problemas comportamentais com
crianças agressivas, hiperativas, com déficit de atenção, autismo, apatia
demasiada, etc.
9 - QUEM NECESSITA INSTRUMENTALIZAR-SE NO PROCESSO INCLUSIVO?
- A escola é uma instituição com múltiplas funções, uma das
principais é proporcionar condições para que os alunos aprendam, outra é buscar
ensinar para a diversidade, sendo inclusiva, portanto inclusão não é sinônimo
simplesmente de socialização desses alunos no grupo ao qual estão inseridos.
- O aluno com ou sem deficiência (esse é o termo correto e não
os “ditos normais”) está na escola para aprender algo mais, para criar
autonomia, para buscar sua independência futura. Nesse ponto o gestor escolar
precisa estar sensível às causas inclusivas, assegurando uma educação de
qualidade para todos.
- É importante delimitar com o seu grupo os objetivos
educacionais, as estratégias de ensino, como se dará a avaliação formativa que
se pretende executar em apoio ao sistema inclusivo, para que todas essas decisões
do coletivo permeiem o Projeto Político Pedagógico da unidade de ensino;
- O gestor pode estar a frente de uma proposta de
reestruturação curricular da unidade que atenda as necessidades de professores
e alunos em detrimento da inclusão;
- É importante que o gestor escolar possibilite a participação
dos especialistas da supervisão escolar e orientação educacional nas formações
e cursos da Educação Especial aos quais o professor do AEE participa. Apoiar a
parceria entre especialistas e professor do AEE para orientações conjuntas é um
ganho para toda a comunidade escolar.
10 - TRABALHO COLETIVO...O SEGREDO PARA ALCANÇAR O SUCESSO!
- Um conhecedor da rotina técnico-administrativa da escola e
do cumprimento das funções e exigências que a função de Supervisor Escolar e
Orientador Educacional pedem, sabe que por vezes esses especialistas se
sobrecarregam de outras tarefas e podem acabar não servindo de suporte ao
professor nas questões inclusivas, sendo assim, os conhecedores de toda a
estrutura didático- pedagógica adequada para auxiliar professor e aluno são
esses especialistas citados.
- O profissional que poderá contribuir no âmbito educacional
com as questões de Educação Especial específicas é o professor do AEE da Sala
de Recursos Multifuncionais. Ele terá as respostas às questões mais específicas
da deficiência e poderá auxiliar no manejo e nas dúvidas que persistirem.
-Supervisores, Orientadores e Professores do AEE a meu ver
devem ser parceiros diretos, devem caminhar juntos, um aprendendo com o outro,
pois ambos possuem um acervo de conhecimentos ricos no campo da Educação Formal
e da Educação Especial. São três especialistas para o que a escola e o
professor necessitam: contemplar as necessidades especiais dos alunos a serem
incluídos. São profissionais presentes nas escolas, ao alcance diário do
professor regente. Esse precisa aprender a cativá-los, aprender com eles para
que esse intercâmbio de informações e orientações se somem à sua prática;
- Cabe aos especialistas conduzirem, apoiarem, incentivarem e
buscarem junto com o professor estratégias e recursos para solucionar os
entraves que impossibilitam o aluno com NEE de aprender;
- O professor do Atendimento Educacional Especializado pode e
deve ter uma função articuladora na escola: permitir-se ser figura de apoio
especializado a todos os envolvidos no processo educativo, criando elos entre
todos os segmentos necessários promoverá o pleno exercício da autonomia de seu
aluno com NEE.
11- COMO CONDUZIR O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NO
CONTEXTO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
- Independente da idade/série que seu aluno com Necessidades
Educativas Especiais (NEE) ou deficiência apresentar o professor e as famílias
precisam saber que:
- Os desafios de ler e escrever para crianças com dificuldades
de aprendizagem são inúmeros, para os ANEE não serão diferentes e irão depender
dos níveis diversificados de comprometimento cognitivo;
- De forma sucinta, o processo alfabético inicia com o
desenvolvimento da consciência fonológica até chegar à leitura (que precede a
escrita), na leitura e escrita de palavras, frases, pequenos textos, tudo de
forma sistemática, ordenada e progressiva, portanto uma ação pedagógica
desenvolvida para uma deficiência auditiva, visual e física sem comprometimento
cognitivo pode ter êxito sem grandes dificuldades, mas o processo pode
tornar-se mais árduo e desconhecido quando se tratar de deficiência intelectual
ou múltipla;
- Algumas crianças com deficiência intelectual ou múltipla
frequentam a escola estando na série compatível com sua idade, porém em um
estágio defasado na apropriação do mundo letrado. Não cabe ao professor do
ensino regular realizar um trabalho diversificado em sala de aula, buscando
suprir num curto espaço de tempo todas as habilidades e competências que esse
educando não formou, nem elucidar como num “passe de mágica” a ausência ou
defasagem de hipótese de escrita de um aluno com NEE;
- Em um contexto alfabetizador ou não, o professor do ensino
regular deve criar situações que permitam ao aluno com NEE experimentar,
participar com a sua turma e refletir sobre a função da escrita, mesmo que
ainda não saiba escrever.
- É importante momentos que oportunizem esses aprendizes
interagir com o mundo da leitura e da escrita para que avancem em seus
conhecimentos mesmo que não encontrem-se no patamar de habilidades e
competências do resto do grupo, para que avancem em suas hipóteses de escrita,
percebam a função dela, para que iniciem o entendimento do código alfabético e
ortográfico se alcançarem esse nível de entendimento.
- Os Agentes de Atividades em Educação Especial
(monitores)portanto dentro de uma abordagem inclusiva, não assumem o papel de
um alfabetizador individual para o aluno com NEE, permanecendo ao lado do
educando com função de aplicar atividades diferenciadas das do resto da turma,
descontextualizadas da aula do professor e buscando o aprendizado do sistema de
escrita. Esse parceiro do professor, do aluno e da turma toda é um profissional
que irá auxiliar no manejo de classe, nos momentos que o professor precisar
dispender atenção maior ao aluno com NEE, na promoção da independência do
educando com deficiência e nos cuidados de AVDS – atividades da vida diária
caso o educando apresente limitações na locomoção, alimentação e higiene
pessoal.
12 - FLEXIBILIZAÇÃO CURRICULAR
- Para criar oportunidades de aprendizagens a todos,
contemplando a diversidade em sala de aula, o professor precisa romper com
práticas pedagógicas homogêneas onde o currículo seja configurado como único
para toda a sala. Educando para a diversidade o professor poderá:
- Organizar as atividades de classe privilegiando grupos de
trabalho colaborativos e de apoio mútuo entre os alunos , garantindo uma aula
dinâmica e inclusiva;
- Investir em atividades escolares cooperativas onde os alunos
em grupo realizam tarefas diferenciadas dentro de um mesmo conteúdo curricular,
ações que poderão apoiar a construção do conhecimento coletivo e de uma
aprendizagem ativa e significativa;
- O professor pode e deve flexibilizar o currículo escolar .
As avaliações também devem ser adaptadas de acordo com o nível cognitivo em que
os alunos se encontram. Estratégias como essas podem propiciar oportunidades de
construções igualitárias;
- O aluno com NEE deve participar em sala de aula do mesmo
conteúdo e das mesmas atividades ministradas a todos, porém as mesmas podem ser
adequadas às habilidades e competências apresentadas pelo educando e o mesmo
estabelecer parcerias de trabalho com outro(s) colega(s) para correrem riscos e
tentarem caminhos alternativos na resolução de problemas;
- As escolas inclusivas devem focar no enriquecimento dos
conteúdos curriculares de forma que os mesmos promovam a igualdade, convivência
pacífica, aprendizagem mútua e justiça social;
- Levando em conta que o professor pode encontrar na
diversidade da sala de aula, graus de compreensão diferenciados e formas de
aprender distintas, o processo de avaliação deve ser contínuo. O próprio
educando com NEE estabelecerá através de suas habilidades e competências seus
objetivos de aprendizagem e as formas do professor avaliar seus progressos em
função de suas construções e avanços;
- A montagem de um diagnóstico de avaliação inicial do aluno
com NEE, uso de instrumentos de acompanhamento da aprendizagem (como fichas e
relatórios descritivos, portfólios de atividades), bem como outros subsídios
para nortear a prática avaliativa do professor se fazem necessários e podem
apontar novos caminhos na tarefa de ensinar;
- A construção de planejamentos e planos de aula que
contemplem a inclusão do aluno com NEE fica a cargo do professor, faz parte da
sua função e responsabilidade com o processo inclusivo, mas com apoio de
especialistas na área, se assim ele sentir necessidade ,o exercício dessa
prática permitirá novas fontes de criatividade e segurança de como transpor
teoria à prática diária.
13 - COMO DAR SUPORTE AOS PAIS DOS ALUNOS COM NEE.
- É essencial que a gestão escolar invista na orientação e no
apoio às famílias dos alunos com NEE, isso não quer dizer, permissividade a
atitudes de inconsequência e descumprimento de seu papel educativo junto a seus
filhos.
- Pais de crianças com deficiência precisam receber suporte da
escola, os profissionais devem investir em relações saudáveis e respeitosas com
as famílias, sem apoiar a interpretação “errônea” que podem ter direitos a
mais, tratamento especial ou regalias por ter um filho com NEE. A Escola de
Pais é uma alternativa bastante eficaz.
- É preciso que a escola desenvolva reflexões e cobre o
cumprimento do papel destinado a família na educação de seus filhos, sejam eles
com ou sem deficiência em questões como:
-Responsabilidade na frequência escolar (assiduidade,
pontualidade estabelecidas a todos os educandos da Unidade Escolar);
- (Parceria, boa comunicação e participação em eventos e
reuniões escolares do seu filho);
- Compromisso de manter a escola informada sobre a saúde,
tratamentos externos ou outros problemas que possam afetar o desempenho do
aluno;
-Acompanhamento da vida escolar do filho;
- Auxílio na imposição de limites em casa, quando o aluno com
NEE reproduz na escola a não aceitação às regras de grupo;
- Cuidados básicos na mobilidade, alimentação e higiene
pessoal de seu filho;
- Garantia de segurança física e emocional ao aluno com NEE
quando nos cuidados de sua família.
A escola precisa estar alerta a desajustes familiares como
maus tratos, superproteção, negligência familiar, violência doméstica, cabendo
medidas de ordem legal a qualquer responsável que descumpra o seu papel no seio
familiar.
14 - LIMITES SEMPRE, PIEDADE...JAMAIS !
A escola comum inclusiva não deve sustentar uma visão que
envolve somente o ato de “cuidar” em detrimento do ato de“ensinar”, de um saber
sistematizado e isso se aplica a toda criança com deficiência, mesmo que
apresente alto grau de comprometimento cognitivo.
Também é papel da Educação a promoção de valores e atitudes de
cidadania responsável e no provimento do desenvolvimento criativo da criança,
sendo assim com todos para que possam viver em sociedade.
Algumas crianças dentro de suas patologias específicas da
deficiência ao entrarem na escola encontram muita dificuldade em adaptar-se,
entender as regras estabelecidas e respeitar combinados de grupo, portanto a
imposição de limites (como ocorre com todos os alunos no âmbito escolar) pode
ser uma das ações iniciais para que o professor consiga estabelecer vínculos
afetivos e comunicação com esse aluno. Sim, seria como uma antiga fórmula
pedagógica do “amor com rigor”, em muitos casos a percepção do que pode ou não
pode acontecer, o “freio social” ao qual alguns alunos com NEE não apresentam,
só será desenvolvido a medida que no grupo escolar ele aprender a se
autogovernar;
- Nesse contexto gestores, professores e demais profissionais
envolvidos no processo educativo devem manter a mesma postura na exigência do
cumprimento de regras por parte do aluno;
- Agir como apenas provedores de amor, de piedade, de
cuidadores na higiene e alimentação com crianças de grande comprometimento
comportamental descaracterizará o papel de todos os profissionais envolvidos
com a educação e não ajudará o aluno com NEE a desenvolver sua autonomia.
15 - AVALIAÇÃO
Durante três anos, vivenciei a Inclusão Escolar estando fora
da sala do ensino comum, atuando como educadora especial e gostaria que esse
estudo realizado e apresentado seja uma nota introdutória às possibilidades do
professor, de acordo com a sua realidade e de seus alunos, se aprofundar nas
abordagens inclusivas citadas a partir de minha experiência.
Não objetivo propor receitas, mas apontar caminhos e colaborar
na construção do conhecimento que todos têm o direito; principalmente o
professor que atua diretamente na linha de frente do processo educativo.
O desafio é grande, afinal não existem respostas prontas, nem
sujeitos iguais no quesito das deficiências, então o desafio da situação me
levou ao desafio de tentar buscar na literatura especializada metodologias que
contemplem formas reais de trabalho com os sujeitos descritos nesse documento.
Este trabalho continua sendo realizado sendo que novas
aprendizagens estão surgindo. Avalio que o caminho trilhado até aqui, ganhou
subsídios com a contribuição dos profissionais envolvidos no processo inclusivo
da escolas citadas , tomou corpo no contato diário com educandos e pais nos
Atendimentos Especializados e espero que contemple outras Unidades Escolares
que busquem respostas práticas ao que muitas vezes se esconde no ocultismo e
anonimato educacional.
16 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
UNESCO. Guidelines for inclusion, Ensuring Acess to
Education for All. UNESCO: Paris. 2005)
COLL, César Palacios J. Necessidades educativas especiais e aprendizagem
escolar. Porto Alegre, Artes Médicas, 1995
Declaração de Salamanca e linhas de ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília, Ministério da Justiça/CORDE, 1994.
Izilda Rodrigues
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