domingo, 3 de junho de 2012

Como lidar com uma criança autista...



O nascimento de uma criança autista precipita, automaticamente, na família a ideia de que a “criança sonhada” já não existe e que surgiu, no seu lugar, uma criança diferente. (Marques, 2000)

Num primeiro momento, após a confirmação do diagnóstico, assistindo-se, assim, um choque e depressão, traduzidos por uma nítida consciência de perda e uma acentuada diminuição de auto-estima, surgindo-se em muitos casos, sentimentos de negação. Assiste-se, também, a uma “chuva de sentimentos” como a desilusão, a raiva, o protesto, a desconfiança, a culpa, entre outros, até que, progressivamente, procede-se ao ajustamento familiar do novo membro. Essa atitude conduz a uma aceitação, digamos que natural, dependendo também da forma como a família se adapta à deficiência da criança. Por norma, há um período em que os pais se isolam com os filhos, evitando contatos sociais, como que se envergonhando do comportamento da criança e receando a incompreensão dos outros. Entretanto, vem o pânico que decorre de uma sensação de desorientação, perante a incapacidade de lidar com a situação. “Porquê eu?”. É uma pergunta sem resposta, reflexo da revolta e da raiva dirigidas contra si mesmo, contra a criança ou até contra o destino, a má sorte ou até entidades de ordem transcendental. No entanto, com o tempo, os pais vão procurando interiorizar a situação. Aquilo que começa por parecer uma esperança razoável de cura pode mais tarde evoluir no sentido da participação social, de auto – determinação e da auto – estima – por outras palavras, evoluir para a esperança de que a criança pode viver uma vida feliz, produtiva e com significado, a qualquer nível que seja (Ruble e Dalrymple, 1996). A família tem de ser capaz de adaptar o ciclo de vida normal, assim como, as dificuldades e incapacidades que resultam da problemática que o espectro do autismo origina.
A criança autista sente-se mais segura quando há ordem e estrutura. Estabeleça rotinas para o dia-a-dia da criança (hora específicas para o banho, refeições, brincar, deitar, etc.). Avise quando vai existir uma mudança nessas rotinas. Reduza os estímulos distratores durante estas atividades.
Como lidar com uma criança autista ?  Estratégias para Pais  e professores...
  • Em primeiro lugar, explique sempre ao seu filho o que vai fazer e assegure-se que ele lhe presta atenção e que o entendeu. Mesmo as crianças não verbais entendem apesar de não mostrarem que compreenderam. Explique gestualmente o que pretende; 
  • Dê instruções simples e diretas, com frases curtas. Dê o tempo que o seu filho necessita para que processe toda a informação. Fale com calma e tenha paciência. Não o pressione. Mesmo que pareça que ele não o está a escutar, ele está lá; 
  •  Faça perguntas específicas, sem duplos sentidos. Não utilize ironia, sarcasmo ou metáforas; 
  • Recorra a estímulos visuais. Por exemplo, cartões ou livros com imagens podem ajudá-lo a comunicar com o seu filho; 
  • Mantenha todas as divisões da casa organizadas: arrumadas e com os objetos nos mesmos locais; 
  •  Tente agir sempre da mesma forma perante uma dada situação, seja coerente nas regras que estabelece; 
  •  Procure identificar o que motiva as crises de auto-agressão de forma a poder antecipá-las (ex. stress, medo, estimulação excessiva, situações confusas, etc.). Quando ocorrem estas crises pode ser necessário colocar a criança num ambiente seguro e calmo. Abraçar a criança pode acalmá-la. Quando se conseguir baixar os níveis de agitação, deve encorajar o seu filho a regressar ao local onde estava anteriormente; 
  • Quando sai para lugares públicos, evite as horas de maior confusão (por exemplo, se quer ir ao shopping, prefira ir de manha ou ao inicio da tarde). Leve objetos do interesse da criança (livros, brinquedos). 
  • Reforce os comportamentos adequados. 
  • Nunca tente fazer com que o seu filho se sinta ameaçado fisicamente; 
  • Antes de tentar alterar ou eliminar um comportamento desadequado, tente substitui-lo por um comportamento funcional; 
  • As crianças autistas apresentam algumas dificuldades no processamento e integração sensorial, o que vai afetar o desempenho da criança. Estimule a criança. Seja criativo e tenha em atenção os interesses da criança. De seguida apresentarei algumas atividades que podem ser utilizadas por pais ou professores para estimular a criança. São dicas gerais, que podem ser adaptadas para cada criança em particular, tendo em conta a idade e as características comportamentais da mesma: 
  • Brincar em frente ao espelho: Se puser, um espelho que reflita o corpo todo da criança. Sente-se atrás dela e brinque, mostrando o seu cabelo, a sua boca, etc. Dependendo da criança, será necessário segurar a sua mão e ajudá-la a colocar as mesmas no corpo. Faça comentários do tipo, olha (cite o nome dela), olha a mãe/professora. Este exercício ajuda a criar a consciência do eu e dos outros. 
  • Rasgar papel: Inicialmente é comum ficar atrás da criança e segurar nas suas mãos para pegar e rasgar o papel. Comece com pedaços grandes e vá diminuindo aos poucos. Este exercício ajuda na coordenação motora. Entretanto, pode-se inventar uma brincadeira, como juntar os papelinhos e atirar ao ar.  
  • Brincar com massinha: Esta brincadeira auxilia a coordenação, mas, normalmente, as crianças estranham muito. Será necessário insistir passando a massa de um recipiente para o outro com as mão ou com uma colher. ( Ter cuidado para a criança não ingerir a massinha).
  • Pintura com as mãos: Ótimo para estimular, deve mencionar as cores e deixar a criança mexer à vontade. Os trabalhos realizados devem ser expostos e partilhados com outras crianças. 
  • Brincar com latas e bolas: Pegue em três latas de tamanhos diferentes (pequena, média e grande) e faça um furo na tampa de maneira a passar uma bola pequena. Brinque com a criança e coloque as bolas nas latas, reforce sempre as palavras Graaaande, mééédia, pequeeena. Depois empilhe também as latas. 
  •  Dançar: Dançar ajuda muito as crianças. Dance com a criança, invente passos, mesmo que ela pareça não se interessar. Coloque músicas adequadas à sua idade e chame os colegas para fazer uma roda. 
  • Jogar à bola: Tente jogar à bola, se puder chame alguém para ajudar. Se a criança não participa, peça para alguém ficar atrás dela e ajudar a pegar e atirar a bola. 
  • Ligar o rádio: Um ambiente rico em estímulos pode ajudar. Deixe o rádio ligado, não muito alto, se possível numa emissora que toque boa música, e em determinados períodos música clássica. É comuns, os autistas terem preferências por determinados sons, como voz mais grave, como as de locutor. 
  • Só para os pais...
  •  Não altere as suas rotinas diárias e não se isole. Lembre-se sempre que não está sozinho pois pode recorrer ao apoio de familiares, amigos, profissionais de saúde, associações, etc. Seja dinâmico (contate outros pais de crianças autistas) frequente congressos e formações); 
  • Pode procurar informação, mas tenha em atenção que nem o que vê na internet é verdadeiro. Fale com profissionais sobre o autismo. 
  • Dispense algum tempo do dia para si (só 15 minutos pode ser suficiente) e faça algo que goste (ver televisão, jardinagem, exercício físico, um banho relaxante) 
  • Mantenha o seu equilíbrio ocupacional (participação equilibrada nas diversas áreas de ocupação – Atividades da Vida Diária, trabalho e lazer). 




Nenhum comentário:

Postar um comentário